O tempo é um ingrediente para os vinhos. Na maturação e no seu envelhecimento, a bebida alcança a sua expressão máxima. Também há vinhos que o tempo transforma em vinagre.
Você já deve ter ouvido algo como: “Fulano é como um bom vinho, só melhora com o tempo”. O tempo é importante, mas sozinho não faz bom vinho nem bom homem. É a maturidade que permite que usemos conhecimentos, talentos e habilidades para trazer ao mundo a nossa expressão máxima.
Avançamos na jornada rumo à maturidade aprendendo com as experiências. É preciso ter a gana de buscá-las e vivê-las, o mais cedo possível. Porque a maturidade conquistada apenas no nosso ocaso é amarga. Similar a abrir um vinho guardado durante anos para uma ocasião especial e descobrir que está estragado.
A coragem para existir com autenticidade e realizar, mesmo imersos em tantas incertezas, nasce da maturidade emocional – entender-se vulnerável, porém agir e aprender com as consequências das escolhas.
Pessoas maduras, de qualquer idade, conhecem bem as suas forças e fraquezas e são capazes de encontrar equilíbrio na vitória e na derrota. Nunca se colocam como vítimas das circunstâncias, pois sabem que ao procurar desculpas para os insucessos ou paralisia, perde-se a oportunidade de evoluir.
Por outro lado, uma das características do imaturo é o platonismo – sonhar mais do que arregaçar as mangas e fazer. Agarrar-se a ideias nunca testadas nem abandonadas por orgulho só resulta em estagnação. Esses imaturos, de qualquer idade, normalmente são ótimos em teorizar e explicar, mas não se arriscam a realizar.
O medo de amadurecer é um assunto tratado por Luiz Felipe Pondé. O filósofo lista marcadores de amadurecimento que estão sendo adiados por muitos da Geração Y: autonomia financeira, sair da casa dos pais, manter um relacionamento estável e ter filhos. Cada um desse marcadores evidencia a dificuldade de assumir responsabilidade sobre a sua existência e ação no mundo – arriscar viver a própria história.
Aparentemente, a aversão ao risco tem aderência com a modernidade. Estabelecemos uma cultura nociva que afeta o bem-estar da sociedade – a transferência de riscos.
Segundo Nassim Nicholas Taleb, escritor do livro “Arriscando a própria pele”, poucos tomam decisões que impactam a vida de muitos e não sofrem as consequências dos seus erros. Taleb é nada tolerante com teóricos e especialistas que emitem opiniões sem vivenciar as consequências de suas falas. Infelizmente, isso é comum em momentos de crise, como a recente pandemia. Existem diversas motivações para esse comportamento, às vezes pouco nobres. No entanto, ignorar a complexidade dos sistemas é o que resulta em análises superficiais e soluções fáceis descoladas da realidade.
Realizadores abraçam as incertezas e assumem riscos, têm maturidade para reconhecer a complexidade e entender que não podemos nos esconder da vida. Na verdade, o nosso valor pode ser medido pela nossa contribuição, aqui e agora.
Clare Boothe Luce, congressista norte-americana, aconselhou J.F. Kennedy: “Um grande homem é uma frase, é preciso encontrá-la”. Ao levantar um brinde ao Visconde de Mauá, diríamos: “A Mauá, símbolo do empreendedor brasileiro visionário, que contribuiu decisivamente para a industrialização e modernização do país!”.
Qual frase você está escrevendo que mereça um tilintar de taças?
Enquanto rabisco a minha frase, reflito: a vida aprecia os seres humanos cujo sabor da passagem pelo mundo persiste.