Internet das Coisas. Que coisa é essa?

Disney, e os seus desenhos clássicos, influenciaram muito a formação da criança imaginativa que fui, encantada por histórias onde a magia eliminava qualquer impossibilidade. Considero o meu primeiro vislumbre do território da Internet das Coisas (IoT) o desenho animado “A Bela e a Fera”, no qual os objetos ganhavam vida – cuidando do dia a dia da casa, comunicando-se entre si e com os donos.

Os objetos inteligentes vêm se integrando rapidamente a nossa rotina. Até o próximo ano, quando a população mundial deverá ser de 7,8 bilhões de pessoas, dividiremos o planeta com mais de 50 bilhões desses objetos. Roupas, acessórios, carros, casas, cidades, indústrias… Coisas conectadas entre si e com a internet, compondo um grande sistema de interações inteligentes. Em seu ponto máximo, teremos a Internet de Todas as Coisas. Inclusive, com os nossos cérebros conectados. Parece ficção? No ano passado, estudantes do Massachusetts Institute of Technology (MIT) apresentaram o wearable AlterEgo, capaz de traduzir pensamentos para executar tarefas, como as de assistentes virtuais comandadas por voz, e  combinar a inteligência humana com a de máquinas, para expandi-la (o que alguns estão chamando de Humanidade Aumentada).

A fusão do tecnológico com o humano é um caminho natural da evolução veloz que estamos presenciando. Os mundos físico e digital serão uma coisa só. Nesse ponto, é importante esclarecer que Internet das Coisas não é uma tecnologia, é um conceito, sob o qual se reúnem diversas tecnologias. O termo Internet das Coisas surgiu em 1999, em uma palestra de Kevin Ashton (MIT Auto-ID Center). Dez anos depois, o pesquisador declarou: – A Internet das Coisas tem o potencial de mudar o mundo, como fez a internet, ou ainda mais.

Falamos de IoT quando tratamos de assuntos como a Quarta Revolução Industrial, carros autônomos, casas conectadas, cidades inteligentes, democratização e precisão de serviços de saúde, agronegócios sustentáveis, gerenciamento de energia e ativos, eficiência em segurança pública, produtividade de mão de obra, produtos como canais, inovação. A IoT pode conduzir a um crescimento econômico significativo e a um desenvolvimento social inédito.

Por outro lado, nem tudo são flores. Eventualmente, o cenário de hiperconectividade lembra o panóptico do filósofo Jeremy Bentham – uma prisão desenhada de modo que os presos nunca soubessem se estavam sendo observados e, assim controlassem o próprio comportamento incessantemente. E controle social já é uma aplicação de IoT. Um programa de ‘crédito social’ está sendo testado na China. Até 2020, os chineses serão monitorados por dispositivos inteligentes interconectados, com o objetivo de ranqueá-los, para premiar ou punir.

A questão da segurança de dispositivos, dados, sistemas e infraestruturas é um tema desconfortável. O Brasil recebe quase um quarto dos ataques mundiais a dispositivos conectados. Essa situação tende a se agravar com a evolução da IoT. Toda essa nada lisonjeira atenção dos criminosos virtuais tem motivo: somos ávidos em adotar dispositivos e aplicações digitais, sem questionamento sobre privacidade ou segurança.

O futuro da Internet das Coisas no Brasil, ou pelo menos o que se pretende para o país, está descrito no Plano Nacional de Internet das Coisas. Quatro áreas foram eleitas como prioritárias: cidades inteligentes, saúde, agricultura e indústria. Vale a leitura! Os empreendedores de diversos segmentos podem vislumbrar boas oportunidades.
Entretanto a oportunidade do país em crescer e se destacar no cenário mundial esbarra na falta de capital humano. Empregadores não conseguem preencher vagas.
O problema começa na Educação de Base ruim, e totalmente inadequada ao contexto atual, chegando ao Ensino Superior, que não tem formado pessoas em número suficiente nas áreas de Engenharia e Computação. A solução exige dedicação intensiva e tempo. Um tempo que não se tem, quando o mundo evolui em velocidade exponencial.

Nesse momento, no qual o meu habitual otimismo quase fraqueja, volto novamente a Disney: “Se você pode imaginar, pode fazer.”.

Imagine toda a prosperidade que a Internet das Coisas pode trazer para Brasil em um futuro próximo. Então, basta nos empenhar no passo seguinte: fazer.

 

Ana Carolina Monteiro

(Artigo originalmente publicado na revista Let’s Go – edição 47)