Você e outros heróis 

Você e outros heróis 

Em uma galáxia muito distante, a Aliança Rebelde lutava contra o tirânico Império Galáctico. Luke Skywalker vivia no pequeno planeta Totooine, quando recebeu uma mensagem aparentemente por engano. O jovem então procura o destinatário, o ermitão Obi-Wan Kenobi, que revelou segredos sobre o passado e o incitou a abraçar a causa da Aliança. Luke rejeita a ideia,  porém um acontecimento repentino e terrível – o assassinato dos tios que o criaram, perpetrado por soldados do império – o faz engajar-se na épica jornada de uma guerra nas estrelas.

O resto da história boa parte dos terráqueos conhece sob o título “Star Wars”. O primeiro filme estreou a Era dos blockbusters, arrecadando a maior bilheteria de todos os tempos. Era uma mistura de estilos e referências como faroeste, guerreiros japoneses, cavaleiros da Idade Média, Segunda Guerra Mundial, tendo como cenário o espaço. A 20th Century Fox não botou fé no resultado e permitiu que o cineasta George Lucas detivesse todos os direitos da obra. Decisão a lamentar pela eternidade. 

Star Wars”, na verdade, segue uma fórmula: a jornada do herói. Muito usada por roteiristas, também pode ser percebida em diversas obras literárias. A força de tal narrativa é ancestral, identificada como Monomito – termo difundido pelo mitologista Joseph Campbell, a partir da uma das suas obras: “O Herói de Mil Faces”. Campbell dedicou-se à análise de culturas ao redor do planeta, encontrando mitos e símbolos similares entre povos distintos e distantes. Esse estudo foi inspiração para George Lucas na criação do ícone da cultura pop. Campbell chegou a colaborar com “Star Wars” como consultor.  

Não são apenas os amantes da arte de contar histórias que se beneficiam do trabalho desse grande pensador. O seu legado é ainda mais relevante agora, em um contexto embalado em tecnologia, volátil, incerto, complexo e ambíguo (VICA), porque ajuda a equilibrá-lo com uma confortável da previsibilidade. Explico: ao analisar os mitos, encontra-se a história de todos os homens – de ontem, hoje e amanhã – algo quase sólido para nos sustentar em um mundo líquido.

Vivemos profundas e rápidas transformações sociotecnológicas, mas a jornada do herói se repete, independentemente da ambientação.  Veja se você consegue identificar essa estrutura nas histórias de grandes homens, em filmes e em diversos momentos de sua vida. Observe o seguinte roteiro: no mundo cotidiano seguimos a vida normal; de repente, um desafio se apresenta; temos resistência em lidar com o desafio; obtemos algum tipo de ajuda; abandonamos a rotina que conhecíamos; enfrentamos testes, provações e revelam-se amigos e inimigos. 

Essa é apenas a primeira parte da jornada, chamada de Partida. Campbell descreve três grandes momentos: Partida, Iniciação e Retorno. As duas outras partes da aventura, de viver, tratam basicamente de enfrentar os medos, lidar com vitórias e derrotas, chegar ao limite e superá-lo, conquistar a recompensa, retornar ao cotidiano – que nunca será mais o mesmo -, usar os aprendizados e, finalmente, por entender o próprio valor, colaborar com o mundo.

Viver é cultivar histórias, que irão alimentar outras gerações. Somos, cada um de nós, mais uma das mil faces do herói. 

Que a força esteja com você!

Ana Carolina Monteiro 

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